Apresentação do livro "41 Ensaios Para um Desajustamento", de Silvério da Rocha-Cunha
Sessão com Olivier Feron, o autor e o seu editor (ed. Húmus)
“O mundo interpela-nos. Nós envolvemo-nos no mundo. O objectivo deste livro é experimentar um metarrelato sobre parte da realidade que rodeia o seu autor, tentando criar uma experiência mais reflexiva entre quem o escreveu e quem o quiser ler."Este livro consiste numa recolha de reflexões realizadas entre dois regressos do autor a Portugal, o primeiro antes de iniciar a carreira universitária, o último logo depois de mudanças determinantes nela.
A migração é o entre-lugar certo para entender Luís de Camões e os seus intérpretes mais voluntariosos e influentes (Manuel de Faria e Sousa, António José Saraiva e Jorge de Sena foram, como ele, emigrantes).
A vida noutras paisagens e culturas permite adquirir o distanciamento necessário para, sem deixar de ver a árvore, vislumbrar a floresta.
Camões como autor não é o que tem parecido ser.
Não é tão independente, ousado ou desinteressado como se tem dito, nem é o cantor do povo que direita e esquerda nele quiseram ver.
Queixa-se insistentemente de que a poesia, a cultura e as artes são desdenhadas em Portugal, mas aquilo que incomoda Camões pessoalmente é a falta do «favor com que mais se acende o engenho», isto é, a falta de subvenção mecenática - e não, como erradamente se tem visto, a «apagada e vil tristeza» da pátria.
Queixa-se, como é fama, de ser vítima de infortúnios e miséria; foi, porém, tratado pela Coroa de modo invulgarmente favorável.
Grande poeta épico e lírico, capaz duma fluência e energia inigualáveis, Camões levanta, ao mesmo tempo, problemas terríveis.